Por Luiz Gustavo Schmitt, Jornal O Fluminense, Seção Cidades

Orêncio de Freitas: pichações na parte externa são reflexo do abandono. Foto: Arquivo O Flu
A situação da saúde na rede pública de Niterói vai de mal a pior: faltam de profissionais a medicamentos e equipamentos. É o que constatou a Comissão de Saúde da Câmara Municipal durante vistorias feitas este mês às unidades. O Sindicato dos Médicos da Região Metropolitana II – que abrange Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, Guapimirim e Tanguá, Magé e Silva Jardim -, confirmou que a situação é caótica, incluindo baixos salários, profissionais desistindo do serviço público e até mesmo falta de segurança em hospitais, com médicos e funcionários temerosos de ir trabalhar.
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos, Clóvis Cavalcanti, a Prefeitura de Niterói deveria prestar atendimento de emergência à população, assim como prevê a Constituição Federal, mas não o faz.
“A Prefeitura deve oferecer atendimento de emergência aos moradores da cidade. Existe um convênio com o Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), no Centro, exatamente para isso. No entanto, o hospital está sucateado, com a emergência referenciada. Da mesma forma se encontra o Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), no Fonseca.” disse.
Cavalcanti também apontou problemas no Hospital Orêncio de Freitas, no morro dos Marítimos, na Zona Norte.
“Além da falta de equipamentos e medicamentos, esse hospital sofre também com falta de segurança. Médicos e funcionários têm medo de trabalhar. Há registro de ameaças de morte, assaltos e até sequestro relâmpago. Muitos acabam abandonando o trabalho”, disse Cavalcanti, que também não poupou o Hospital Getúlio Vargas, no Fonseca, que já fora uma referência em cirurgias.
“O teto do centro cirúrgico desabou no ano passado e até hoje não foi consertado. Resultado: as salas de cirurgia estão fechadas”, explicou.
De acordo com o vereador pedetista e presidente da Comissão de Saúde da Câmara, Felipe Peixoto, um dos casos mais graves encontrados teria sido na Policlínica Sylvio Picanço, no Centro. Equipamentos roubados em 2007 ainda não teriam sido repostos.
“A situação é precária. A maioria dos locais que fomos visitar precisavam de cuidados urgentes”, informou Peixoto.
Secretário admite carência
O secretário de Saúde de Niterói, Alkamir Issa, admitiu que o setor passa por uma crise, não só no âmbito municipal, mas em todo o País.
“A saúde sofre com falta de verba. E o Huap é um reflexo disso. A Prefeitura tem uma parceria com o hospital, que prevê, entre eles, o cumprimento de metas e o atendimento de emergência à população. No entanto, sabemos que há um problema de financiamento do setor”, disse Issa, que ainda concluiu:
“O Ministério da Educação (MEC) oferece menos profissionais do que o necessário. Isso faz com que o hospital tenha de gastar verba de custeio (que deveria ser utilizada para investimentos) para contratação de profissionais. Ou seja, alguns setores ficam deficientes. Não posso fechar os olhos e pedir para o Huap simplesmente cumprir o contrato”.
Alkamir Issa negou que o município não preste atendimento de emergência.
“A rede municipal de saúde cresceu muito ao longo dos anos. E hoje nossa emergência funciona nos hospitais Carlos Tortelly e Getúlio Vargas, na Unidade de Urgência Mário Monteiro, nos Serviços de Pronto Atendimento do Largo da Batalha e da Engenhoca, por exemplo. Há também o Heal, que não é municipal, mas também atende emergência”, explicou.
Quanto aos hospitais Getúlio Vargas e Orêncio de Freitas, o secretário municipal de saúde reconheceu os problemas e anunciou melhorias.
“O Getulinho precisa realmente de obras. A nossa idéia é agir o quanto antes para fazer os reparos necessários. Da mesma forma estamos fazendo no Orêncio. A iluminação das ruas no seu entorno foi restabelecida, vamos instalar câmeras de monitoramento e construir uma guarita com cancela para limitar o acesso ao hospital”, concluiu Issa.