Com base em conceitos de eficácia comprovada – como a iniciativa para erradicar a malária na Zâmbia – o novo subsídio milionário do Rotary faz o que já era bom ficar melhor ainda.
Como parte da campanha de erradicação da pólio, o Rotary e seus parceiros treinaram milhões de trabalhadores e voluntários da área de saúde e vacinaram quase 3 bilhões de crianças. Desde que o Rotary passou a defender a causa, em 1985, a incidência de poliomielite diminuiu 99,9% e o número de países onde o vírus selvagem é endêmico caiu para dois: Afeganistão e Paquistão.
“O que vocês estão fazendo com a pólio é simplesmente incrível”, disse Larry Cooley, um conhecido consultor em desenvolvimento internacional.
O Rotary resolveu vencer mais desafios lançando os Subsídios de Grande Escala, o novo programa da Fundação Rotária que concede subsídios a Rotary Clubs ou distritos para projetos e programas bem-sucedidos baseados em evidências, que estejam prontos para serem ampliados. O primeiro subsídio, anunciado em fevereiro, fornecerá US$ 2 milhões para a iniciativa Parceiros por Uma Zâmbia Sem Malária, que é liderada por associados nossos e focada no combate à essa doença. Cofinanciadores da iniciativa, a Visão Mundial e a Fundação Bill e Melinda Gates contribuirão US$2 milhões cada um, totalizando US$6 milhões para capacitar e equipar 2.500 agentes da saúde na Zâmbia em apoio ao trabalho do governo na erradicação da malária naquele país.
O conceito de Subsídios de Grande Escala remonta a 2013, quando os Subsídios Globais, que nasceram do modelo atualizado de subsídios da Fundação Rotária, expandiram o escopo e o tamanho dos projetos do Rotary almejando aumentar seu impacto. Após uma avaliação do modelo de subsídios em 2016, o Conselho de Curadores da Fundação Rotária solicitou a criação de um novo tipo de subsídio que financiasse projetos “escaláveis” nas áreas de enfoque — ou seja, iniciativas capazes de crescer mais, serem expandidos ou aprimorados.
Como resultado surgiram os Subsídios de Grande Escala: uma forma de financiar projetos de alto impacto e porte com potencial de atrair parceiros e aproveitar a capacidade e o entusiasmo dos nossos associados. “Embora estejamos bem satisfeitos com os Subsídios Distritais e Globais, queremos financiar projetos de maior impacto”, disse o curador da Fundação Rotária Sangkoo Yun, que integrou a comissão selecionadora do primeiro beneficiário do novo subsídio. “Queremos quantificar melhor nosso impacto e compartilhar o que aprendemos com todos os rotarianos engajados em serviços internacionais.”
O que significa a palavra “escala” neste contexto?
“Esta é uma pergunta simples que exige uma resposta complicada”, disse Cooley, que é especialista no assunto. Segundo ele, isso significa procurar uma solução que corresponda à escala do problema. Se você definir o problema em termos locais, então a escala da solução será local. Se você o define como internacional, como no caso da pólio, então a escala da solução será internacional.
“Embora estejamos bem satisfeitos com os Subsídios Distritais e Globais, queremos financiar projetos de maior impacto.” – Sangkoo Yun, Curador da Fundação Rotária e membro da comissão selecionadora do Subsídio de Grande Escala
“Os problemas têm denominadores”, complementa ele. “Se alguém me dissesse que ajudou na distribuição de 10.000 cobertores para pessoas carentes eu daria os parabéns e, em seguida, perguntaria quantas delas realmente precisavam de cobertores. Se a resposta fosse 10.000 entre 15.000 pessoas eu diria que isso foi formidável. Porém, se a resposta fosse 10.000 entre 10 milhões de pessoas, eu diria que, embora válida, essa abordagem não foi a melhor.”
Os clubes devem pensar em escala sempre que estiverem desenvolvendo um projeto, e não somente quando quiserem solicitar um Subsídio de Grande Escala. Cooley sugere que em vez de se concentrar em projetos, os rotarianos se concentrem em problemas. “Encarem o problema, seja ele comunitário ou nacional, e não saiam de cena até que seja resolvido, ou pelo menos atenuado.”
Nas palavras de Tusubira, quando pensamos em aumentar a escala podemos acrescentar certas facetas a um projeto de sucesso e intensificar seu impacto. Ou podemos expandir o projeto para beneficiar mais pessoas, como é o caso da Zâmbia, onde os rotarianos estão ampliando um projeto de Subsídio Global exitoso e outros programas que financiaram treinamento para trabalhadores comunitários de saúde em outras partes do país. Segundo ele, o desafio é descobrir quais são os fatores responsáveis pelo sucesso de um projeto para determinar o que deve ser ampliado.

A Fundação recebeu mais de 70 propostas preliminares de programas e projetos do mundo todo, e após um rigoroso processo foram escolhidos três finalistas.
“Fiquei impressionada com a qualidade e apelo das propostas, e com a experiência dos rotarianos e suas conexões”, enfatizou Judith Diment, diretora da rede de representantes do Rotary e consultora em assuntos de pólio que também integrou a comissão selecionadora. “O que realmente me admirou na proposta da Zâmbia foram as parcerias e a colaboração já estabelecidas, e os vários paralelos com o nosso programa de combate à poliomielite.”
O sucesso do Rotary na erradicação da pólio fornece lições valiosas para os clubes — não apenas para aqueles interessados em concorrer a um Subsídio de Grande Escala como também para aqueles que planejarem qualquer iniciativa.
Diment ressalta um ponto extremamente importante, que é o poder das parcerias, claramente refletido na Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, uma das parcerias mais ambiciosas do setor público-privado na área da saúde. “A colaboração entre parceiros fortalece qualquer empreitada de grande escala”, enfatiza ela.
“Quando organizações focadas em causar impacto se unem, elas conseguem fazer muito mais em prol dos mais vulneráveis, ajudando-os a atingir seu potencial pleno.” – Edgar Sandoval Sr., Presidente e CEO da Visão Mundial, EUA
Outro ponto importante é a necessidade dos projetos crescerem por causa dos interesses dos rotarianos. Antes do Rotary abraçar a luta contra a pólio globalmente, os clubes individualmente já estavam combatendo a doença com projetos financiados pela nossa organização, incluindo aquele feito em 1979 para ministrar a vacina oral contra a pólio nas Filipinas. Com este novo subsídio, Tusubira acredita que os rotarianos apresentarão ideias que terão um alto impacto sustentável e atrairão parceiros.
Outro ponto é a utilização da poderosa rede do Rotary. Rotarianos do mundo todo têm usado suas conexões – locais, nacionais e internacionais – para chamar a atenção e obter apoio para a erradicação da pólio.
Cooley, diz estar fascinado com o potencial do Rotary para ampliar projetos. “Estas são pessoas destacadas, empenhadas em fazer algo bom”, diz ele. “O Rotary é um ativo valioso, capaz de fazer uma diferença ainda maior.”
Os Subsídios de Grande Escala são a chave para isso.
Rotarianos expandem programa na Zâmbia
Bill Feldt recorda a primeira conversa que teve sobre a solução do problema da malária na Zâmbia. Foi em 2012, depois que ele trabalhou no seu primeiro Subsídio Equivalente de combate à malária junto com Mwangala Muyendekwa, médico e associado do Rotary Club de Kalulushi, na Zâmbia. Era um projeto de US$ 57.000 para distribuir 6.500 mosquiteiros na província de Copperbelt, na Zâmbia. “Quando estavam distribuindo essas redes, Mwangala me mandou um e-mail dizendo: ‘Isso foi bom, mas não o suficiente; temos que expandir este projeto’”, lembra-se Feldt, do Rotary Club de Federal Way, no estado americano de Washington.

Em grande parte, a visão de Muyendekwa está se concretizando por causa da expansão dos trabalhos. Com o primeiro subsídio de US$ 2 milhões, os Parceiros por uma Zâmbia Sem Malária (como a iniciativa é agora conhecida) estão procurando reduzir a incidência da malária em 90% em 10 distritos altamente afetados nas províncias Central e Muchinga.
Os Parceiros farão isso treinando 2.500 agentes comunitários da saúde, assim como funcionários de unidades de saúde que trabalharão com eles. Os agentes comunitários, munidos de medicamentos e suprimentos necessários, atuarão em casos de malária, trabalharão para prevenir a transmissão e farão outras intervenções de saúde necessárias reduzindo, assim, a sobrecarga nas clínicas.
A malária, uma doença prevenível causada por um parasita transmitido pela picada de mosquito, continua sendo uma das principais causas de doença e morte na Zâmbia, contribuindo significativamente para a mortalidade infantil e materna.
A proposta de subsídio incluiu promessas da Fundação Bill e Melinda Gates e da Visão Mundial dos EUA para equiparar o subsídio de US$ 2 milhões do Rotary, totalizando US$ 6 milhões para a iniciativa. “A credibilidade do Rotary é surpreendente”, afirma Feldt. “Temos muito a oferecer e vamos demonstrar isso.”
Pedimos a Feldt que falasse sobre o processo competitivo e o projeto.
O que fez com que este projeto ganhasse o subsídio?
Ele está se expandindo com base em conceito comprovado, o que é realmente importante e foi determinante para a sua escolha. Causaremos impacto na vida de 1,3 milhão de zambianos, os quais terão assistência médica pela primeira vez. Isso significa testar, tratar e prevenir a malária, e também significa tratar a diarreia e a pneumonia, além de fornecer informações sobre a covid-19. A proposta apresentava todas as qualidades.
Como isso se expande a partir do trabalho anterior feito pelos rotarianos?
Recebemos três Subsídios Globais nos últimos dois anos. Quando o terceiro desses projetos for concluído, teremos treinado mais de 1.500 agentes comunitários da saúde na província de Copperbelt. Isso nos deu muita credibilidade junto à Fundação Rotária. O que realmente estamos fazendo é apoiar o governo da Zâmbia, que tem um excelente currículo de treinamento de seis dias. Há cerca de 12.000 agentes de saúde treinados sob os auspícios do Ministério da Saúde. Com os Subsídios Globais e os Subsídios de Grande Escala, acrescentaremos mais 33% de agentes.

Como você adaptou o aprendizado adquirido em projetos anteriores?
Estamos entrando em áreas onde não existem agentes comunitários da saúde. Uma vez que os novos agentes sejam treinados, os médicos e enfermeiros precisam aprender como interagir com eles. Estamos financiando algumas atividades com fundos de Subsídios Globais, e faremos mais ainda com o Subsídio de Grande Escala porque aprendemos que esse é um componente vital da sustentabilidade.
Outra coisa que aprendemos é que os melhores agentes da saúde são aqueles já estabelecidos nas suas comunidades, que são conhecidos pelos moradores e depositários da sua confiança. Trata-se realmente de prestígio. Um estudo concluiu que essas pessoas fazem isso por amor à causa, e isso as torna verdadeiros líderes.
Por que este é o programa certo para combater a malária na Zâmbia?
Não apenas na Zâmbia, como também na África Subsaariana. Um fator-chave para o sucesso é que o governo está comprometido e dá todo apoio. Um dos nossos parceiros, a organização PATH – sediada em Seattle e que recebe financiamento da Fundação Gates – apoiou o Ministério da Saúde da Zâmbia e o Centro Nacional de Eliminação da Malária no lançamento de uma iniciativa governamental que envolve os agentes comunitários da saúde. Este é um conceito que o Unicef e a OMS têm definido e encorajado. Entre 2012 e 2015, o Ministério da Saúde e o Centro Nacional de Eliminação da Malária, com o apoio da PATH, fizeram seu primeiro projeto na província sul da Zâmbia, e reduziram as taxas de malária a quase zero por meio de agentes da saúde. Isso valida o conceito de sucesso comprovado do programa. O modelo parece funcionar, o governo está comprometido e a Fundação Gates considera este um bom modelo porque tem apoiado o programa PATH na Zâmbia por quase uma década.
Que conselho você tem para os rotarianos que buscam parceiros para projetos?
Eles devem informar os planos e objetivos aos possíveis parceiros. As conexões são a alma do negócio, e o Rotary mostrou que quer ir ainda mais longe ao lançar os Subsídios de Grande Escala. Na África e em todo o mundo, os rotarianos podem abrir portas por meio das suas conexões, que conduzem a inúmeras oportunidades. Temos um grande diferencial comparado à concorrência, que é a credibilidade conquistada por anos de bons serviços, principalmente o nosso programa institucional de erradicação da pólio.
O que veremos se visitarmos o local do projeto em 2026?
Espero que vejamos uma redução dramática na incidência da malária, um sistema de saúde autossustentável que utilize plenamente os agentes comunitários da saúde, onde eles estejam diagnosticando 60% a 70% de um número de casos de malária que possam ainda existir. Nessa altura, os agentes provavelmente estarão trabalhando com casos de pneumonia e doenças diarreicas mais do que antes. Com sorte, eles estarão usando telemedicina. A rotatividade nessa ocupação será baixa, os agentes passarão por novos treinamentos e serão parte central do sistema de saúde. Eles representarão o último quilômetro a ser trilhado por um sistema de saúde reconhecido pelo seu grau de sucesso.
(Fonte: Rotary International)
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