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Rotary Club de Niterói Icaraí

Distrito 4751 – RJ (região norte) e ES – Brasil

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CAPÍTULO 5

Atividades Eclesiásticas

 

Vovó costumava levar Cecil e eu à igreja e me lembro bem da afetada ordem interna do velho templo Congressional. Vovó vestia-se num elegante vestido de rendas de cor discreta, como convinha ao dia de repouso semanal na Nova Inglaterra. A população da cidade, homens, mulheres e crianças, deslizavam silenciosamente pelos corredores laterais da nave e penetrava, respeitosa, por entre fileiras de poltronas estofadas, para tomar lugar e cumprir sua função, no coro, ou na cooperação do culto ou, enfim, para que pudesse concentrar-se profundamente nas orações e também, para, de quando em quando, dar longas cochiladas.

Todos se esmeravam para não tomar quaisquer atitudes impróprias ou desrespeitosas na igreja. Era a casa de Deus. Nem mesmo era permitido que alguém se virasse para cumprimentar um amigo discretamente.

Aos sábados à noite tínhamos que ir à bacia d’água morna, lavarmo-nos com muita esfregação para tirar as cracas dos joelhos, dos pés e do pescoço. Aos domingos, de manhã, vestidos, convenientemente, em roupa limpa e nova, íamos à igreja assistir ao culto e à escola dominical. Depois disso, quando voltássemos, podíamos sacar fora os “impedimentos”, então desnecessários, vestir roupas comuns e traquinar, dentro de certos limites permitidos. Podíamos circular pelo pomar e comer as frutas aí produzidas, na estação. Era permitido ler mas não correr ou pular, a menos que o fizéssemos longe dali, escondidos. Sair para fora dos nossos limites ou receber amigos era proibido. Aliás, proibição desnecessária, pois os amigos também estavam impedidos de sair de suas casas.

Quando nossos primos de Rutland estavam de visita, claro que tínhamos permissão de brincar com eles. Na Nova Inglaterra daqueles dias, as crianças, aos domingos, eram promovidas a gente adulta. As artes infantis e as correrias alegres eram legítimas, apenas nos outros dias da semana. No entanto, não me lembro de haver tido um domingo aborrecido. Eu os aproveitava para planejar minhas atividades para a semana seguinte.

O reverendo Walker era o ministro da nossa igreja. A sua longa e espessa barba branca parecia qualifica-lo à atividade santificada. Até hoje, quando alguém se refere aos profetas dos tempos primitivos, vem-me à memória visual a imagem do reverendo Aldace Walker nas suas roupas esvoaçantes, de cântaro na mão em direção à fonte da cidade para abastecer-se de água fresca. Ele era reverenciado por toda a população da comunidade.

O reverendo Walker foi substituído pelo reverendo Elija Huntoon e este, a seguir, pelo reverendo Gamaliel Dillinham, que deve ter sido um santo homem a julgar pela extensão dos seus sermões e orações e pela solenidade com que se apresentava. Tinha, por hábito iniciar seu culto de domingo, pela manhã, abençoando todas as pessoas que exerciam autoridade. Começava pelo presidente da República e descia por toda a escala governamental da república. Depois passava para as autoridades estaduais e municipais. Para maior segurança, incluía alguns reis e rainhas. Era surpreendente o número de notabilidades da sua lista e a sua prodigalidade na distribuição de bênçãos. Se Deus se esquecesse de algumas teria de assumir a responsabilidade pela falta.

Um apóstata, Dannie Foley, empregado da Sra. Ranney deu mostras de praticidade quando indagou:

– Porque, em nome dos céus, o reverendo Gamaliel não abrevia: Que Deus abençoe todos os pretos, os brancos, os verdes e os amarelos?

Dispensado das exigências da patroa, Dannie jamais assistiria aos ofícios religiosos. Mas a sua presença à Igreja era obrigatória e ele a isso se sujeitava disciplinadamente. Se fosse chamado, ele abreviaria enormemente e de muita boa vontade o trabalho do reverendo Gamaliel. Ouvi, certa vez, uma sua solene afirmação de que os sermões do reverendo eram uma ameaça de esvaziamento do país, pois eram mais devastadores do que quaisquer tempestades ou inundações. O meu julgamento pessoal se inclinava bastante por aprovar o de Dannie.

Não me lembro do que os ministros da nossa Igreja diziam, quando eu era menino. Seus sermões estavam além da minha capacidade de compreensão, mas eu gostava de cantar no nosso quarteto, que era melhor do que poderia esperar-se. Além disso, os meus pensamentos no silêncio e solenidade da Igreja teriam sido muito mais elevados do que se eu estivesse em qualquer outro lugar. Ali havia uma sensação acentuada de paz e bem-estar.

Minha imaginação costumava elevar-se às alturas para exaltar os feitos de Frank Nelson descritos em “Frank num Navio de Guerra” e o meu coração palpitava pelo velho e bom escravo Cudjoe, nos acontecimentos temerários em que encontrava, conforme a história excitante, “A Caverna de Cudjoe”. O amargor da minha vida era o fato de a Natureza não me haver dotado de romantismo. Eu me propunha a esforçar-me para que um dia pudesse praticar feitos dignos de registro. Eu seria, no futuro, soldado, marinheiro ou, no mínimo, maquinista de trem. Poderia, no futuro, ter o privilégio de brilhar nos campos de batalha ou navegar por mares tempestuosos e, depois, voltar a Wallingford em uniformes de botões dourados e dragonas, que deslumbrariam as moças e eu, de cabeça erguida, indiferente e cônscio do meu valor e da justa razão da minha condição de herói. Tais devaneios, sem nenhuma conexão com os sermões do reverendo Gamaliel, eram apenas estimulados por eles. Assistindo às suas atitudes solenes, muitas vezes eu o imaginava um selvagem de Borneo ou coisa parecida. Indiscutivelmente, a Igreja influenciava fortemente a imaginação de todos os que a frequentavam.

Raramente o espírito de reverência se instalava em mim. Então, sentado na poltrona da família, entre meus avós, eu permanecia quieto e aparentemente atento. Mas, na verdade, meus pensamentos corriam as montanhas e os meus olhos estavam fixo, através da janela, nas árvores, lá fora, apreciando o farfalhar das suas folhas e, ocasionalmente os passarinhos brincando ou cantando, em liberdade, inscientes de que era domingo e que o reverendo Gamaliel estava se esforçando para atingir o botão que acenderia a luz nas almas das suas ovelhas. Aqueles passarinhos eram, isto, sim, incorrigíveis pagãos!

Havia, no ambiente da Igreja, a legítima característica da Nova Inglaterra, expressa pelo apuro com que as mulheres se apresentavam vestidas e pela fragrância do ar, perfumado pelas essências com que todas elas se espargiam. Se a limpeza e o capricho aproximam as pessoas de Deus, as mulheres da Nova Inglaterra devem estar entre as eleitas.

Vovó tinha a sua toalete permanentemente pronta para as ocasiões de frequentar a Igreja. Seu vestido de seda preta com os respectivos ornamentos parecia especialmente próprios para as manhãs de domingo. Ele serviu por muitos anos, como, também, o terno e o sobretudo de vovô, sua indumentária para reuniões e conferências. Se vovó possuía um xale Paisley? Claro que o possuía! Ela e mais todas as mulheres, cujos maridos tivessem a possibilidade de comprar um. Tia Mel estava na categoria. Os xales PaisLey eram insígnia de distinção. Tia Mel tinha, ainda, um casaco de peles, que lhe fora dado por vovô. Tia Lib também tinha um, que mais tarde foi legado à prima Mary. . . Dois casacos de pele na família! Que distinção, meu Deus!

A roupa de uso diário de vovô era limpa e bem cuidada, embora, é evidente, bastante surrada. Seu sobretudo de uso diário era conhecidíssimo na comunidade. Um rapaz maior e mais velho do que eu, certo dia, zombou:

– Lá vem o velho Harris com seu sobretudo cor de rato! Se eu fosse da idade dele e mais fortinho, teria lhe quebrado a cara!

Ninguém sabia melhor do que eu porque vovô cuidava das suas roupas a fim de aumentar-lhes a durabilidade. Ninguém sabia melhor do que eu que a frugalidade característica da sua vida tinha uma razão forte de sustentação: o propósito de proteger a sua gente, as pessoas que ele amava.

Vovó era a responsável pela aparência digna de vovô e pela minha, nas manhãs de domingo, na Igreja. Uma das visões domésticas, lá em casa, era a de vovó inspecionando e esfregando, com um pano molhado e ensaboado, o pescoço de vovô e engraxando as suas botinas, com gordura de galinha, que as amaciavam e davam-lhes brilho. Nesta tarefa podia-se notar que ela tinha um dos seus pulsos imobilizado. Por um acidente, provavelmente. Nunca ninguém ouvia dela qualquer menção a isso. Tenho, até, a impressão de que ela alimentava um certo orgulho por aquele aleijão.

Se eu tossisse durante o serviço religioso, vovó passava-me um pedacinho de um preparado solúvel que ela mesma fazia. Açúcar e uma raiz qualquer. O açúcar amenizava o amargor profundo da raiz. Mas o carinho e a bondade da velhinha deixavam, na droga, uma doçura especial. Aquela tossezinha ainda hoje, volta, especialmente na Igreja. Mas hoje são outras mãos carinhosas que mergulham em recônditos esconderijos e emergem com os extintores da tosse. São as mãos de minha escocesa querida, a boníssima Jean.

Nos últimos tempos de vida de Vovô, ele dormitava durante o sermão. A voz monocórdica e grave do ministro contribuía bastante para isso. Tomei, voluntariamente, a tarefa de mantê-lo acordado durante o tempo integral do ofício religioso. Para exercer tal obrigação com eficiência e recato eu dobrava as pernas, sentado, de tal modo a poder cutucar, com o dedão, as canelas dele que, de indústria, estariam colocadas a jeito. Meu dedão funcionava um sem número de vezes enquanto se desenvolvia o aborrecido discurso. Lembrando, hoje, dessa minha obrigação, chego a pensar que a exercia um tanto automaticamente e que, com isso, obriguei vovô a escutar muita coisa dispensável das piedosas lengalengas do ministro. Muitas e muitas vezes seria preferível que ele repousasse naqueles cochilos incoercíveis.

Havia dois dias santos que eram respeitados: o dia de ação de graças e o dia de jejum. Os ofícios religiosos correspondentes eram realizados pela manhã, na hora do costume. Aprendíamos o quanto e porque devíamos agradecer a Deus. Mas jamais ouvi qualquer justificativa para encerrar o dia de ação de graças, como clímax da comemoração, com um majestoso jantar de peru.

Acho que pelo menos deveria haver alguma explicação para o costume de haver, como parte das comemorações, o “tiro à galinha e ao peru”. Era uma tômbola que consistia em um concurso de tiro ao alvo às próprias aves nominadas. Cada tiro à galinha custava 10 centavos de dólar. Ao peru, 25 centavos. Quem acertasse o tiro ganhava o prêmio respectivo: um exemplar vivo de galinha ou peru. Alguns cúpidos fazendeiros, percebendo não haver nenhuma proibição pelos preceitos da Igreja, criaram esse sistema de comercialização rendosa das suas aves, ao verificarem que pouca gente tinha capacidade de acertar os alvos. As aves eram postas para serem atingidas numa rampa, a uma distância que a mim parecia muitos quilômetros. Os bons atiradores ganhavam, de pronto, suas aves, mas ficavam impedidos de atirar daí por diante. Os outros iam, aos poucos, desovando os seus “dimes”[1] e “quarters” em favor dos empresários da tômbola.

O dia do jejum tinha perdido muitos dos seus rigores dos tempos coloniais. De fato, os banquetes do dia de jejum eram a sua principal característica. Como aconteciam à noite, depois da cerimônia religiosa (quando os participantes estavam famintos), sabiam excelentemente. Da minha parte, eu me deliciava com eles… Pensava mesmo que eram a fase mais importante das comemorações. Na minha opinião podiam-se até suprimir os serviços religiosos. . .  dos quais, sempre que podia, eu fugia.

 

NOTA:

[1] “Dime”: denominação popular da moeda de 10 centavos. “Quarter”: denominação de 25 centavos de dólar. – (N. do T.)

 

 

 


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