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Rotary Club de Niterói Icaraí

Distrito 4751 – RJ (região norte) e ES – Brasil

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CAPÍTULO 10

Os medonhos

 

Quando os rapazes chegam à adolescência operam-se neles alterações de natureza biológica, que se refletem, muitas vezes, diabolicamente, no comportamento.

Mesmo os pais e mães corujas frequentemente passam a duvidar se o júnior seria um bom padre, como eles sonhavam, ou se os seus talentos mostram, apenas, vocação para a patifaria e a malvadez. Os pais excessivamente dedicados chegam a convencer-se de que será melhor concordar com o comportamento dos filhos adolescentes do que impor-lhes orientação oposta às suas tendências.
Jerônimo Hilliard, o fabricante de carroças, indubitavelmente a nossa mais credenciada autoridade em terminologia, não excetuando nem mesmo o Sr. “civilizado” Johnson, cuja conversação era a mais burilada, mas menos expressiva, usava chamar a nossa turma de “medonhos” e, em verdade, devemos admitir que ele tinha razão.

Os “medonhos” têm passado por grandes transformações no correr dos tempos, mas, em princípio, são sempre os mesmos. Os palhaços no circo construíram padrões de boa vida que os “Medonhos” do meu tempo adotavam como se adotam novidades. Mas o circo só vinha uma vez por ano.
Durante o resto do ano os “Medonhos” inventavam suas próprias artes. Que ficassem inativos, é inconcebível.

No meu tempo, tínhamos que criar as nossas próprias “artes”. Tínhamos que ser, ao mesmo tempo, autores e atores e, ainda, assistir-nos aplaudindo. Os adultos pensavam que era porque podíamos correr e andar, que armávamos as nossas brincadeiras, mas aqui estou para afirmar que isso não está totalmente correto. Se ficássemos presos, sem nos locomover, ainda inventávamos com que traquinar. Nossos braços, mãos, dedos, olhos e ouvidos eram capazes de por as coisas a andar.

Meninos não são criaturas capazes só de criar atos de travessura. São como cachorrinhos, que mastigam e destroem chapéus de palha. Os meninos e os cachorrinhos se entendem. Há afinidade espiritual entre eles: pensam as mesmas coisas ou, pelo menos, num mesmo sentido, experimentam os mesmos brinquedos e, sob certo ponto de vista, falam a mesma linguagem. Claro que os meninos são desprovidos do rabo e, portanto, não podem sacudi-lo. Mas têm outros meios de demonstrar alegria.

Toda cidade ou comunidade do mundo tem seu grupo de piás travessos. A gente os vê acompanhados dos seus cães, correndo e pulando nas ruas, perseguindo-se mutuamente, aos gritos e risos, por toda a parte, trepando em árvores, em postes, pulando cercas, invadindo quintais, assustando homens, mulheres, cavalos, vacas e outros animais domésticos. Sim, são terríveis traquinas e o melhor que se pode fazer é deixá-los que o sejam.

Esses meninos sabem coisas que não se aprendem em casa, nem na escola, nem na igreja. Quando o “júnior” manifesta, à mesa, algum dos seus avançados conhecimentos, mamãe dá um cutucão no papai ou franze a testa, numa pergunta muda:

“Onde você pensa que este menino aprendeu isso?” E o papai acha que essa interrupção extrapola a sua criatividade.

Posso dizer, a quem deseje saber, aonde o menino aprende essas coisas imprevistas: é com os seus companheiros traquinas. Essa miudalha sabe coisas que os mais velhos nem imaginam. A miudalha nem mesmo distingue as coisas dos homens das de Deus.

Por exemplo, a miudalha sabe – e mesmo gente mais crescida deve saber – que as árvores se comunicam entre si numa linguagem lá delas. No começo do outono de cada ano, as árvores levantam suas cabeleiras e elaboram juntas os planos do espetáculo que esperam apresentar no início do inverno, para agradar a gente boa dos arredores.

Cada árvore, de acordo com sua espécie, assume um papel. O majestoso carvalho, associado com a sumagre, vista ao longe nas baixadas, pode dar-nos a visão de uma cor de vinho, carregada, que os amantes da natureza tanto apreciam, as faias, os olmos, as pétulas dão milhares de tons amarelos e vermelhos, os bordos nunca se limitam a uma só cor, todas, enfim, enfeitam a floresta, exuberantemente, de uma gama deslumbrante de cores, em outubro, antes que as folhas murchem e caiam.

Os “medonhos” do nosso vale eram afortunados. A natureza foi pródiga na distribuição de árvores nas encostas. As variedades são inúmeras e a mão, que lhes aplica as tintas, é generosa e hábil. Depois que a semente germina no solo pedregoso é certo que cresce sadia e, logo, se apresenta frondosa e exuberante…a chuva e a neve garantem o suprimento de umidade e o sol funde o gelo da terra no tempo devido. Gente de outras regiões se admira da perseverança com que as sementes procuram o lugar apropriado para sua germinação, entre as pedras. Devemos levar em conta que as sementes são conduzidas pelo vento, pelas chuvas, pela neve e, no caso das faias, das nogueiras e dos carvalhos, participam também os nossos auxiliares de quatro patas, os esquilos. Dentro das suas respectivas esferas, os pássaros, as abelhas, as formigas e outras criaturas microscópicas cooperam para manter a ecologia e oferecer ao homem ó privilégio de viver e gozar as belezas do mundo.

Os pinus, ciprestes, abetos e cedros, frondosos por todo o ano, dão o tom verde, contrastante com o branco da neve, como testemunho de que, mesmo sob “frio terrível”, existe vida.
No nosso vale as faias eram as árvores mais comuns e ao mesmo tempo, as mais úteis. Faziam boa sombra em cujo frescor os “medonhos” se deitavam e sonhavam de coração limpo e consciência tranqüila. Dão madeira dura, boa lenha e, de sua casca, podia ser preparado um xarope delicioso, além de que, com o seu brilho natural, iluminam as montanhas, no outono. As maiores entre as árvores são os carvalhos. Elas só se curvam durante a tempestade, e de má vontade. Isso porque devem firmar-se na raiz central (pião), que mergulha fundo na terra, pois as laterais são superficiais e algumas até aparentes, sobre o solo.

Os mais sobranceiros são os álamos. Nenhuma árvore se lhe assemelha, ladeando as estradas ou formando alas de entrada nas mansões residenciais. Muitos acham que a faia, pela densidade de presença, é a mais pitoresca e bela de todas as árvores. Os artistas são, constantemente dominados pelo fascínio das faias. Algumas espécies de salgueiros pendem, graciosamente, ao vento e os “medonhos” os procuram porque os brotos tenros, conhecidos por salgueirinhos, são arautos da primavera e também porque, com eles, podem os “medonhos” fazer apitos.

Alguns apreciadores da natureza indagam-se porque Deus desveste as árvores em novembro, quando as gentes se agasalham com mais roupas. Nunca admitir-se-ia tosquiar ovelhas no outono. Na primavera é que é o tempo certo.

É uma visão melancólica a das árvores, no inverno, tão literalmente nuas como os “medonhos”, quando mergulham no arroio Otter no verão. É uma benção, no entanto, que as folhas mortas das árvores não sejam enterradas como o são os humanos mortos.

Os “medonhos” as juntam e amontoam contra o embasamento de madeira das casas, para conservar os moradores abrigados do vento frio do inverno.

Criança que brinca, alegre e tranquila,
Que dorme, que sonha e acorda e que ri,
Do corpo saudável, que se rejubila.
De Deus a doação que tomou prá si.
Guri, das tarefas da escola se esquece,
Que da Natureza a ciência se aquece,
Que anda às mãos dadas na vida com ela,
Parceiro animoso e mui tagarela,
Que beija e a envolve em quentes abraços!
Que Deus te abençoe, menino descalço!

Oh, for boyhood pailess play
Sleep that wakes in laughing day
Health that mocks the doctor kules,
Knowledge never learned of schools
For eschewing books and tasks,
Nature answers all he asks;
Hand in hand with her he walks
Face to face with her he talks
Part and parcel of her joy,
Blessings on thee, barefoot boy

Nós os “medonhos” de Wallingford tínhamos que nos conservar informados de tudo a que se passava na cidade. A barbearia, o correio e a estação rodoviária eram excelentes centros de informação. Achávamos, sempre, meio de nos manter informados de tudo o que acontecia de importante na estrada de ferro. Sabíamos desde o nome dos guarda-freios até os dos maquinistas, quem, entre eles, mascava fumo e a razão pela qual os demais não mascavam. Dava, aos “medonhos”, um saboroso senso de poder, o acordar à noite ouvindo o ruído do trem das duas e meia da madrugada e saber que, nele, estavam os seus companheiros Jim Gillespie, na alavanca do freio e Jack McGuike, no depósito de carvão.

Uma vez, um “medonho” meu amigo, que fazia aprendizado na estrada de ferro, desafiou-me a, às escondidas, viajar no limpa-trilhos do trem das 10:30 da noite, até Manchester e voltar, da mesma forma, no trem das 2:30 da madrugada. Ele sabia quando o trem das 2:30 fazia escala em Wallingford, portanto planejou tudo previamente.

Quando o trem das 10:30 estacionasse eu deveria atravessar os trilhos à frente da locomotiva, mas só subir no limpa-trilhos, quando encoberto das vistas do maquinista, enquanto Willie faria o mesmo, do lado do foguista. O esquema funcionou perfeitamente.

Fizemos uma viagem emocionante no sereno da noite, sentindo as vibrações do motor. Que sensação sentimos ao adentrar e sair das pontes cobertas, nas vizinhanças de Manchester! Enquanto isso, vovô e vovó dormiam o sono dos justos, sem saber por onde andava o neto irresponsável! Se algum desocupado houvesse acordado vovó e lhe dissesse que seu neto querido não estava na cama, mas em Manchester e que só voltaria às 2:30 viajando sobre o limpa-trilhos do trem, ela diria que ela ou eu ou o informante ou nós três estávamos literalmente fora do juízo!
Oh, sim! Os “medonhos” estão sempre fazendo experiências e aprendem coisas que os mais velhos ignoram. A maioria das suas atividades, é claro, terão que conservar altamente secretas. Os mais velhos não as entenderiam, nem mesmo acreditariam nelas. O que, por exemplo, diria vovó se eu, ao sair, lhe dissesse que não esperasse por mim, naquela noite memorável em que Willie e eu fizemos a excursão no limpa-trilhos do trem? O melhor foi agir como agi: quando o relógio bateu 10 horas pulei a janela, juntei-me a Willie e lá fomos a Manchester.

Os limpa-trilhos das locomotivas são, hoje, muito pouco conhecidos. Como o seu nome indica, sua finalidade é empurrar para fora dos trilhos quaisquer animais ou objetos que, à passagem do trem, porventura possam estar sobre eles. Nos limpa-trilhos da Estrada de Ferro Benninton e Rutland havia espaço suficiente para Wallie e para mim. Podíamos, ali, viajar sentados com certo conforto. No entretanto, se houvesse um boi na linha, na noite da nossa aventura, teríamos oportunidade de ter recebido um funeral respeitável, a menos que os ajuntadores dos nossos restos tivessem, a estes, adicionado alguns pedaços do boi.

Outras ocasiões que esperávamos, com planos prévios e com prazer, eram as das orações das sextas feiras da Igreja Congressional. Havia o canto de hinos contidos no hinário “Moody and Sankey” e, como o programa, não era organizado previamente, era uso de o líder solicitar sugestões dos presentes. “Pull for the shore, Pull for the shore” (Marinheiro, puxe para a praia) era um dos favoritos para nós, os “medonhos”, pelo seu caráter náutico e, principalmente, porque, no coro, imitava-se o bimbalhar de sino. Então, nós, a título de dar realismo ao ato de remar para a praia, fazíamos uma algazarra de gritos, o que, para nós, era uma diversão insuperável.

As mulheres sentavam de um lado e os homens do outro e nós, os “medonhos”, ficávamos no último banco do lado dos homens, aonde tínhamos a melhor posição para perceber tudo o que acontecia e a menor probabilidade de sermos observados pelos nossos pais e pelo líder. O último banco era a nossa posição estratégica, de onde assistíamos às conferências e entortávamos alfinetes para colocá-los nos bancos dos adultos. Alfinetes convenientemente dobrados funcionam melhor do que tachinhas ou percevejos!

Considerava-se de boa prática colocar os alfinetes dobrados nos bancos à frente dos ocupados por meninas inocentes, as quais seriam as acusadas pelos atingidos na molecagem e, muitas vezes, teriam seus ouvidos zunindo por bofetadas educativas!. . . No entanto, o culpado verdadeiro estaria muito afastado do paroquiano ofendido. Pelo exercício continuado e inteligente dessas atividades, a gente podia atravessar a temporada isento de surras ou, até, de ralhações. Claro que se tinha de aprender controle de emoções, gozar o susto do ofendido em compostura própria, mostrando-se até escandalizado. Nove vezes em dez casos, o menino que mais alto ria, por mais inocente que fosse, era o que mais bofetadas levava. Um “medonho” que se prezasse nunca ria desses episódios a menos de duas quadras da igreja.

Lembro-me de uma noite em que o Sr. Harlan Strong, nosso superintendente da escola dominical, arrancou-se do púlpito em que estava, aos fundos da ala central e veio até o banco em frente ao nosso, agarrar George Wilder pelas duas orelhas e sacudir-lhe a cabeça de tal modo, que tivemos a impressão que iria arrancá-la das amarras, naquele pescocinho fino. O leitor indagará o porque daquele ato ostensivo e insólito. A intenção do Sr. Strong era fazer, com as orelhas de George, a mostra permanente de que a igreja não é o lugar para risos. Mas a pergunta que nós, os “medonhos”, fazíamos silenciosamente era se o Sr. Strong se satisfaria com só um par de orelhas ou exigiria mais. E, se exigisse, quem seria o portador das duas seguintes.

Na verdade, George era o único menino inocente do banco. Tudo o que ele tinha feito, antes dos ataques do Sr. Strong, foi rir do paroquiano espetado e, depois de castigado, foi protestar contra o apaixonado mau uso da sua cabeça e a afirmar, perante os presentes à igreja, que o castigo sofrido era injusto e de mau gosto.

Em defesa do ataque do Sr. Harlan, se me for permitido alguma, eu diria que as orelhas do George eram, de fato, grandes e convidativamente salientes. Quem quer que tivesse tido o impulso de puxá-las poderia, por isso, ser perdoado. Teria sido por um impulso humano, por tentação natural. A única maneira que os pais de George teriam de afastá-la, seria ter conservado o menino em casa, longe das vistas humanas.

 

 


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