Por Jennifer Jones, presidente eleita do RI, em 20/1/2022 –
No dia 14 de agosto, Nick e eu fomos a Evanston, no estado de Illinois – a cidade que abriga a Sede Mundial do Rotary International e onde moraremos pelos próximos dois anos.
Devo confessar que estava bastante entusiasmada por finalmente entrar no meu gabinete de presidente eleita, de trabalhar na sala onde se executa um trabalho que respeito há anos. Além disso, havia também o aspecto bem bacana de eu trabalhar em outro lugar que não fosse na mesa da minha sala de jantar.
Já na primeira semana, recebi uma mensagem privada de um rotariano logo pela manhã dizendo: “Não sei se você se lembra de mim; nós nos conhecemos em Hamburgo, quando você deu uma palestra no meu clube”.
Ele estava me pedindo um grande favor. Seu clube tinha contato com uma ativista da paz de Cabul, no Afeganistão – uma jovem que estava correndo perigo. O favor era se eu poderia fazer algo para ajudá-la a sair do país. Ele me contou que os smartphones estavam sendo confiscados e que ela estava usando o dela por meio de rede privada para despistar quem quisesse encontrá-la.
Todos nós nos lembramos nitidamente das cenas mostrando milhares de pessoas desesperadas tentando escapar pelo aeroporto de Cabul.
Do conforto do meu escritório, sentada à minha mesa imensa, de repente eu me senti muito pequena. Quem era eu? O que eu poderia fazer?
Alguns anos antes, o então diretor do Rotary International, Pat Merryweather, havia me apresentado a um Bolsista Rotary pela Paz que desempenhava um cargo que provavelmente poderia influenciar neste tipo de situação. Pronto, agora era o momento de arriscar.
Eu entrei em contato com o bolsista e aquela certa magia do Rotary que conhecemos tão bem assumiu vida própria.
Aquele ex-bolsista foi o herói da história. Não sei como tudo aconteceu, só sei que em menos de 24 horas o nome da ativista foi adicionado à lista daqueles que sairiam do país. Dois dias depois, soubemos que ela estava a caminho da Europa.
Imaginem só o que ela deve ter pensado enquanto o avião decolava.
Isso, meus amigos, é o poder do Rotary. É quando as conexões são feitas, é quando o mundo se alinha e as vidas se encontram. Nesta altura, nossas diferenças se dissipam e o único limite ao impacto que podemos causar é a barreira que se encontra somente na nossa imaginação.
Quero agora levá-los ao passado, mais precisamente ao dia 9 de novembro de 2014. Nick e eu estávamos no terraço de um hotel em Berlim, com os olhos numa parte da cidade onde 1 milhão de pessoas se reunia para celebrar o aniversário de 25 anos da queda do muro de Berlim, que foi o acontecimento que marcou o fim da Guerra Fria.
Mais cedo, naquele mesmo dia, durante um evento que teve como anfitrião o ex-presidente Holger Knaack, eu conheci uma mulher chamada Tatjana Jury. Tatjana me contou que 25 anos antes ela estava trabalhando como repórter de rádio na zona leste da cidade.
Ela continuou dizendo: “Nós não tínhamos ideia do que estava acontecendo. Meu diretor de redação estava tendo uma crise de nervos e eu não tinha ideia do que fazer”.
Tatjana então pegou o seu gravador e foi às ruas para dar uma explorada, por que, como ela mesmo disse: “Quando você quer conseguir uma boa notícia, você tem que agarrar a história”.
Ela viu milhares de pessoas se deslocando entre as zonas leste e oeste da metrópole, e havia gente quebrando o muro. Logo depois, ela voltou à rádio e deu vida à matéria.
Enquanto escutava o relato da Tatjana, o poder da conexão mais uma vez operava a sua magia.
Naquele mesmo dia em que Tatjana viu a história acontecer na sua frente, como repórter novata, eu também era uma repórter em início de carreira. Eu estava sozinha na sala da redação na minha cidade, em Windsor, no Canadá. De repente o alarme disparou, sinalizando que algo importante estava acontecendo em algum lugar do mundo. Eu corri para a antiga máquina de telex e li a mensagem que tinha acabado de chegar da agência de notícias dizendo que o Muro de Berlim estava sendo destruído, e, com ele, a Guerra Fria.
E exatamente como a Tatjana, eu não tinha ideia do que fazer. Só sabia que o que estava acontecendo era algo histórico. E com o pensamento de que “quando você quer conseguir uma boa notícia, você tem que agarrar a história”, fui logo à cabine do noticiário para falar da novidade.
Imaginem, nós duas, Tatjana e eu, separadas por aproximadamente 6.500 km e, ainda assim, vivenciando a mesma experiência singular.
Daí, 25 anos depois, quando nos conhecemos, Tatjana e eu ficamos emocionadas ao nos lembrarmos daquele dia. Eu não sei se foi ela quem originou a notícia que acabou chegando a mim no Canadá, mas escolho acreditar que tenha sido ela.
Quando compartilhamos experiências como esta colaboramos à paz mundial através da compreensão. E esse mundo de paz só pode se manifestar quando nos comprometemos com a equidade, os direitos humanos e a alocação justa dos recursos comunitários. Ou por outro lado, como sabemos muito bem, quando nos perguntamos: “É JUSTO para todos os interessados?”.
Ao nos dedicarmos em trazer mais diversidade, equidade e inclusão ao Rotary, a remoção de barreiras é vital, e inclusão é a chave para o crescimento do nosso quadro associativo.
Embora possa soar como um novo chamado à ação, não há nada de novo nisso. Quero que ouçam a gravação do que o nosso fundador, Paul Harris, disse em 1933 durante a 24ª Convenção do Rotary:
O Rotary é aberto a representantes de todas as esferas sociais, a representantes de todos os países e a todas as formas de religião. … E é aqui que estão o gênio criativo e a glória do Rotary. … Embora os rotarianos possam diferir em muitos aspectos, em dois eles estão em perfeita harmonia.
Estamos todos em perfeita harmonia.
Há alguns anos, fui entrevistada por um programa de televisão americano. Pouco antes do início de começarmos a entrevista, o anfitrião revelou algo que me impressionou. Ele era rotariano há mais de 30 anos, mas só recentemente ele havia “entendido o Rotary”.
Ele tinha colaborado em um projeto de distribuição de casacos para crianças na região em que morava. E, pela primeira vez, tudo passou a fazer sentido. Ele viu de perto o poder do voluntariado, e foi aí que ele realmente se engajou, chegando até a presidir o seu clube.
Imaginem só — levou mais de 1.500 reuniões de clube para que ele finalmente “entendesse o Rotary”. Então, que lição aprendemos com isso?
Que devemos engajar os nossos associados.
Minha cidade natal, Windsor, é a capital automotiva do Canadá. Conheço bem o chão de fábrica e fui criada em meio a este mercado altamente competitivo. Quando algo não estava funcionando, era necessário fazer uma reequipagem. Em outras palavras, a fábrica fechava por alguns meses para encontrar as peças certas, se reequipar e oferecer um produto novo.
As últimas décadas foram difíceis, pois as fábricas tiveram que fechar devido à concorrência imposta pelo mercado. Dezenas de milhares de empregos foram eliminados e nunca mais voltaram.
Então, o que resta fazer nesses casos? Temos que nos adaptar. Demorou, mas nossa cidade agora é líder mundial no agronegócio e também em tecnologia médica e aeroespacial de ponta.
Nós, aqui no Rotary, também devemos nos adaptar e nos reequipar. Encontrar a “peça” certa para engajar cada associado deve estar no centro das atenções do Rotary, já que, no final das contas, o que importa mesmo é que cuidemos bem deles.
Há alguns anos, meu amigo Bronwyn Stephens me levou a uma escola em Melbourne. Foi lá que conheci um interactiano chamado Peter, que me disse: “Se você quer filhos responsáveis, você tem que delegar responsabilidades a eles”.
Peter estava certo. Trazer novos associados ao Rotary não é o problema, mas, mantê-los conosco, é. Somos uma porta giratória — em todas as partes do mundo.
Precisamos atender aos anseios deles em relação ao Rotary e lhes dar responsabilidades significativas.
O que cria verdadeira paixão e senso de propósito nas pessoas é justamente o que temos a oferecer: voluntariado, crescimento pessoal, desenvolvimento de habilidades de liderança e amizades para o resto da vida. Estas são as nossas responsabilidades. Se não servirmos à nossa base de associados, não poderemos servir às nossas comunidades. E se não oferecermos conforto e cuidarmos bem deles, é provável que eles nunca irão “entender” o poder do Rotary.
E quero esclarecer que quando digo associados, estou me referindo aos rotarianos e também aos rotaractianos. Somos todos associados do Rotary.
Fomos encarregados em liderar a nossa grande organização. Depende de nós sermos corajosos e agir com a devida intenção, dando chances para que outros liderem ao nosso lado.
Tenho o prazer de anunciar que, a partir de 1º de julho deste ano, um rotaractiano indicado por mim será coordenador da imagem pública do Rotary. Eu incluí oficialmente rotaractianos em várias comissões e, durante nosso mandato, começarei a designar um grupo seleto de rotaractianos como meus representantes.
No ano passado, o presidente Shekhar lançou a iniciativa de empoderamento de meninas, que foi muito bem recebida no mundo todo. Daremos continuidade à essa iniciativa, pois sabemos que meninas empoderadas se tornam mulheres empoderadas.
Temos menos de um ano e meio para atingir a meta de ter um quadro associativo composto por 30% de mulheres. Fizemos bastante progresso, pois esta marca já foi alcançada em mais de 110 países. Isso posto, ainda temos um longo caminho a percorrer — e 30% é somente a próxima parada para trilharmos o caminho de termos 50% de associadas na organização! E devo ressaltar que o Rotaract já atingiu este patamar.
Contar com diferentes tipos de clubes — especialmente os novos modelos — é vital ao crescimento do Rotary. Como preciso da sua ajuda neste sentido, estou pedindo a cada um de vocês que, durante seus mandatos, abram ao menos dois clubes inovadores ou baseados em causas.
E talvez o mais importante, incutam nesses clubes, e nos clubes já operantes, a nossa filosofia de proporcionar conforto e cuidar bem dos nossos associados. Vamos, juntos, engajar todos os associados para que eles amem os seus clubes e a sua experiência no Rotary.
Enquanto trabalhamos para inovar a organização a partir de dentro, também daremos ênfase especial à projeção do perfil do Rotary em nível mundial, realizando uma excursão de impacto global para celebrar nossas conquistas.
Vamos dialogar ativamente com intelectuais e líderes mundiais sobre como podemos trabalhar juntos para enfrentar os desafios mais urgentes do mundo.
O Rotary abre portas e temos que aproveitar nossas conexões, fortalecer os vínculos que temos e criar novas parcerias. E o melhor de tudo é que isto pode acontecer em todos os níveis da nossa liderança.
Todos nós sentimos o impacto causado pelos valores e serviços do Rotary. Cabe a nós compartilhar esse sentimento com os outros.
Lembro de uma reunião do Rotary na Coreia. Embora eu não entendesse o idioma, houve um momento maravilhoso em que eles começaram a recitar algo em uníssono. Pelo ritmo, ficou claro que eles estavam declamando a Prova Quádrupla.
Senti um grande conforto naquele momento — o tipo de conforto que vem da familiaridade com algo que nos é caro. Nossos valores, tradições e legado são poderosos e nos servem de base para irmos avante, dando asas à nossa imaginação de como podemos ser bem mais do que somos.
Há 50 anos, foi gravado um hino que contém estas belas palavras:
Você pode dizer que sou um sonhador,
Mas eu não sou o único.
A letra desta canção é um chamado à ação. Todos nós temos sonhos, mas agir para realizá-los é uma escolha pessoal. Quando uma organização como a nossa sonha em realizar colossos como eliminar a pólio e instaurar a paz, temos a responsabilidade de fazer as coisas acontecerem, de transformar esses sonhos em realidade.
Imaginem um mundo que merece o melhor que temos a oferecer, onde acordamos todo dia com a certeza de que podemos fazer a diferença. Nós não imaginamos o ontem; nós imaginamos o amanhã.
Imaginem um mundo sem pólio.
Imaginem um mundo com água limpa para todos.
Imaginem um mundo livre de doenças. Um mundo onde toda criança sabe ler.
Imaginem gentileza, esperança, amor e paz.
E é por isso, meus caros amigos, que o nosso lema é Imagine Rotary.
Imagina Rotary.
Imaginons le Rotary.
Immagina il Rotary.
Imajin Rotari イマジン ロータリー
Sangsanghara Rotary 상상하라 로타리
Imagine o Rotary.
Hsiang-hsiang Fu-Lun 想像扶輪
Espero que ele seja significativo em todas os nossos idiomas.
Há uma parte sensacional numa canção do musical “Rent”, da Broadway:
Quinhentos e vinte e cinco mil
e seiscentos minutos;
como medir um ano de vida?
Alguns de vocês devem conhecer este musical, e outros podem estar mais familiarizados com a ópera de Puccini, “La Bohème”, que inspirou a criação do musical.
Minha amiga e governadora Michelle Bohreer recentemente pediu para que pensássemos que cada um de nós tem o mesmo número de minutos no ano. Como cada um de nós escolherá vivê-los é o “xis” da questão.
Em 1º de julho, o tique-taque do relógio começa. Como vocês usarão os seus minutos?
(Fonte: Rotary International, Discurso do Lema de 2022-23, em pdf)